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"A vida é curta, quebre regras, PERDOE rapidamente, BEIJE lentamente, AME de verdade, RIA descontrolavelmente, APROVEITE as pessoas distantes da família e NUNCA PARE DE SORRIR, por mais estranho que seja o motivo. A vida pode não ser a festa que esperávamos, mas uma vez que estamos aqui, temos que comemorar !

sábado, 4 de setembro de 2010

Por não estarem distraídos.

- Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.
                                                 Clarice Lispector.

▪ Cansada.

{...} das angústias, das memórias, das dores, dos problemas.. dos outros.
quero agora os meus. meus temores, minhas dores, minhas flores, ou espinhos.
sentir o formigar da insegurança corroendo por dentro..
poder parar. 
abaixar o livro, ver as letras e não conseguir montar uma frase que tenha lógica.
percebo então, o que estou fazendo, ou não estou..
perdi a concentração e estou devaneando, pensando, lembrando.
e então. sinto em mim, a ansiedade consumir. a dúvida, se apossar dos meus minutos,
levá - los embora.
tinha esquecido o quanto era doce, e angustiante.
poder não imaginar, e ouvir, apenas.
mas sentir. e sinto . é meu! se faz bem, ou não pouco importa !
é como um choque, ver que agora, não tenho todas as respostas.
ver que acabo de perder no mínimo 40 minutos da minha tarde,
e algumas páginas do meu livro, simplesmente pensando, voando..
vejo que, não sou prática, não sou lógica, nem racional.
sou bicho que lembra o cheiro da carne e fica empertigado..
sou agora, talvez coração.. e porque não ?
é o que quero, agora. e quero muito !
cair ! mas cair ?
bobagem.. levanto, como sempre.. e se vai valer a pena..?
pouco me importa. estou sim, disposta a descansar .
descansar da certeza, que me dominou por todo esse tempo.
que me prendeu, amarrada aos pés da mesa.. onde me mantinha segura e equilibrada.
mas na verdade, estava amarrada, ao meu medo.. ao desequilíbrio de não sentir nada alheio à minha casa.
meu casulo.
procuro a porta da frente, e abro !
começo a olhar à volta, a rua é escura e não me lembro ao certo..
por onde começo a andar.. mas saio, e ando !
como eu volto, não sei.. nem me interessa saber agora.
o que me faz bem agora, é ir andando, com o vento no rosto e a sensação de ser humano, normal, e frágil.
mas, e se eu me cansar de andar, de cair, de sentir arder as feridas magoadas com a raladura da queda ? 
simples: 
paro, sento em alguma varanda vizinha, faço um curativo.. e descanso !